O presidente da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), Alejandro Domínguez, apresentou na quarta-feira (8) o modelo de transparência adotado pela entidade aos países membros da OEA (Organização dos Estados Americanos). No evento realizado em Washington, nos Estados Unidos, Domínguez explicou o impacto das novas práticas, que resultaram em uma melhor reputação, no crescimento da qualidade dos seus torneios e em maiores receitas.
“Conseguimos transformar o futebol sul-americano com transparência, gestão profissional e, acima de tudo, reinvestimento no futebol”, afirmou Alejandro Domínguez, ao participar da 54ª Reunião do Grupo de Especialistas para o Controle da Lavagem de Dinheiro (GELAVEX), organizada pelo Departamento contra o Crime Organizado Transnacional (DDOT) da OEA.
“Quando assumi o cargo, prometi que faríamos uma auditoria forense e, de fato, somos a única confederação de futebol do mundo que fez uma auditoria forense e, a partir dessa auditoria pudemos colaborar em diferentes investigações (…) e recuperamos mais de 130 milhões de dólares em dinheiro”, explicou o presidente da CONMEBOL.
Domínguez disse que a chegada da nova administração em 2016 impôs uma mudança na gestão. “Encontrmos uma confederação que parecia uma organização do século 19, dirigida como se fosse uma despensa pessoal. A própria confederação pagava os gastos familiares não somente dos membros da presidência, mas de todo o entorno”, contou o dirigente.
“O fim era o dinheiro e o meio era o futebol. O que fizemos então foi colocar o foco no futebol e todo o ecossistema que o rodeia”, apontou.
De acordo com Domínguez, a mudança nos estatutos da CONMEBOL a colocou a salvo das ações das pessoas que circunstancialmente comandam a entidade.
Círculo virtuoso
Essa mudança, acrescentou, trouxe não apenas benefícios em termos de reputação e confiança, mas também permitiu um rápido desenvolvimento da renda genuína, o que se refletiu diretamente na qualidade de seus produtos.
“O que fizemos foi criar uma equipe de profissionais sul-americanos. Assim, fomos transformando uma confederação rumo a um nível profissional de modo a colocar os problemas esportivos de volta nos trilhos, alcançar novamente as metas esportivas e, dessa forma, reconquistar a confiança do mercado”, explicou Domínguez.
O dirigente continental também destacou o aumento exponencial das rendas da CONMEBOL, que em 2014 foram de US$ 99 milhões e em 2023 espera-se que cheguem a US$ 511 milhões.
Esses recursos gerados a partir da implementação de novas políticas administrativas foram diretamente para a própria base da CONMEBOL, conformada pelas confederações que a compõe e dezenas de equipes profissionais.
“92% volta de forma direta, 8% volta de forma indireta”, disse Domínguez. Um exemplo é o aumento dos prêmios nos torneios que, graças “a uma nova forma de comercialização aberta, transparente e auditada neste ano chegarão a mais de USD 300 milhões”, em comparação aos USD 70 milhões de 2014.
Desse modo, a CONMEBOL se manteve fiel a um de seus pilares estratégicos: reinvestir no futebol o que é gerado pelo futebol.
Contra o crime transnacional
O Departamento contra o Crime Organizado Transnacional (DOTC) foi criado in 2016 e seu principal objetivo é fornecer assistência técnica e legislativa aos estados membros da OEA para enfrentar e responder ao Crime Organizado Transnacional (TOC) em suas diversas manifestações.
O GELAVEX é o principal forum hemisférico para discutir e propor linhas de ação para prevenir e combater a lavagem de dinheiro nas Américas. Este grupo foi lançado em 1990, através da convocatória para a “Primeira Reunião do Grupo Interamericano de Especialistas para elaborar Regulamentos Modelo sobre Lavagem de Ativos Relacionados ao Tráfico Ilícito de Drogas”.
Ao encerrar sua apresentação, Domínguez definiu um objetivo claro para sua administração: “Queremos proteger o futebol, queremos proteger o esporte, queremos que o dinheiro vá para onde sempre deveria ter ido. Queremos o futebol sul-americano se fortaleça”.
No entanto, reconheceu que o esforço da CONMEBOL não está livre de dificuldades.
“As pessoas pedem transparência, mas quando se caminha com transparência, você começa a ganhar grandes inimigos, mas sempre devemos seguir adiante”, sublinhou.
Além de Domíngez, a diretora de Ética e Compliance da Conmebol, Graciela Garay, participou do encontro. “Na Conmebol transformamos o desafio de prevenir a lavagem de dinheiro em uma oportunidade para reafirmar nosso compromisso com a integridade e transparência no futebol sul-americano. Temos ferramentas robustas para garantir que todas as nossas operações reflitam nossos valores”, disse Graciela Garay.
No mês passado, a Conmebol reiterou perante a Procuradoria-Geral do Paraguai para que se pronuncie e inicie uma ação penal em relação à denúncia apresentada há mais de seis anos por operações suspeitas de lavagem de dinheiro, envolvendo Nicolás Leoz, ex-presidente da entidade, e o Banco Atlas S.A.