O Senado Federal está em campanha para arrecadação de 5 mil cobertores que serão encaminhados à população do Rio Grande do Sul, estado que enfrenta a pior tragédia de sua história, com 341 cidades em situação de calamidade pública. A campanha, encabeçada pela Diretoria-Geral da Casa e pela Liga do Bem, foi anunciada durante audiência pública, nesta segunda-feira (6), na Comissão de Direitos Humanos (CDH).
Muito emocionado, o presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS), destacou os tristes relatos da tragédia que já deixou 78 mortos confirmados, 105 desaparecidos e 844 mil afetados, entre eles 175 pessoas feridas, 134 mil pessoas sem casa.
O parlamentar abordou ainda o árduo trabalho dos socorristas e voluntários, que muitas vezes precisam escolher a quem salvar, diante do grande número de pessoas em estado vulnerável.
— Os esforços conjuntos do governo federal e estadual são dignos do nosso respeito, como também os dos prefeitos de cada município — cada um faz o que pode —, vereadores, sindicalistas, trabalhadores… E quero muito destacar aqui o dos voluntários. Muitos jovens motoqueiros entram mato adentro para abrir picadas para chegar às cidades. Muita solidariedade de pessoas, com seusjet skis, com seus barcos particulares, enfrentando a correnteza do rio.
O presidente da CDH disse que “é preciso muita união, que as nossas divisas ideológicas sejam esquecidas para o bem-estar da população”.
A diretora-geral do Senado, Ilana Trombka afirmou que as primeiras movimentações para a campanha se iniciaram na sexta-feira (3) e que, até o momento, já foram arrecadados cerca de 3 mil cobertores. A ação da Liga do Bem reúne uma série de parceiros e colaboradores, entre eles os três gabinetes parlamentares do Rio Grande do Sul e grupos de torcidas como as do Grêmio e do Internacional.
— É preciso pressa neste momento, é preciso que nós tenhamos ações rápidas. Depois, teremos outros momentos de ajudar. Haverá uma situação de saúde pela convivência com água; um terceiro momento de reconstrução da vida desses milhares de desabrigados. (…) Porque tem fome, tem pressa e quem tem frio tem pressa, e as temperaturas no Rio Grande do Sul vão baixar a partir de quarta-feira [8]. O Rio Grande do Sul precisa dos brasileiros e brasileiras de todas as querências — afirmou a diretora.
Além de pontos de coletas, as doações para os cobertores podem ser feitas pelo pix [email protected]. Os cobertores arrecadados serão levados ao Rio Grande do Sul pela Força Aérea Brasileira.
— Por fim, um momento de conscientização de todos nós que o meio ambiente grita por respeito, ele demonstra a sua força. Nós precisamos conviver melhor no Rio Grande do Sul, em todo o país e em todo o mundo, com as questões ambientais e climáticas. — expôs Ilana, que convocou outros órgãos públicos a participar ou fazer suas próprias campanhas em prol do RS. Servidores gaúchos da Casa também realizaram um vídeo para pedir a colaboração de todos na campanha de arrecadação de cobertores.
Salvar vidas
Secretário-executivo do governo do Rio Grande do Sul, José Henrique Medeiros Pires agradeceu a campanha “em tempo recorde”, que mostra que “há um profissionalismo excepcional na ação”.
Pires destacou o Decreto Legislativo 100/2023, decorrente do PDL 321/2023, promulgado em setembro do ano passado no Congresso, que reconheceu o estado de calamidade pública no território do estado do Rio Grande do Sul (RS) até o final de 2024.
— No Rio Grande do Sul, a água já está baixando, mas até que isso aconteça teremos enchentes e aí vem o frio. (…) Nessa primeira leva, serão 5 mil cobertas novas que serão colocadas dentro do Rio Grande do Sul, numa iniciativa dessa equipe, desse grupo, dessa gauchada dos quatro costados que está aqui, em torno deste projeto, que certamente está tendo êxito e possivelmente tenha uma segunda fase.
Secretário-executivo da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Olavo Noleto disse que há uma organização nacional que automaticamente entrou em ação para se somar ao trabalho que está sendo feito no Rio Grande do Sul.
— A primeira preocupação é salvar vidas. O trabalho das forças de segurança e da defesa civil otimizaram esforços para tentar poupar todas as forças possíveis. E nesse sentido, toda a sensação que temos é que tudo é pouco.
Secretária Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Anna Paula Feminella enfatizou a difícil situação enfrentada por pessoas com deficiência. Ela disse que só em Canoas (RS) há 500 pessoas com deficiências com necessidades de cuidados prioritários, que precisam de coisas básicas como cadeiras de rodas, colchonetes casca de ovos, fraldas, cadeiras de banho, muletas, bengalas e outras coisas perdidas na tragédia, artigos que serão listados em campanha para arrecadação destinada a esse público mais vulnerável.
Moradora de Porto Alegre, a professora universitária Laury Garcia Job, que está em Brasília a trabalho, compartilhou emocionada a situação enfrentada pela população gaúcha. Ela mesma e seus filhos estão com as casas praticamente cobertas de água, o que a impede de voltar para seu lar de imediato, além do fato de o aeroporto em Porto Alegre estar fechado.
— Nosso governador [Eduardo Leite] nos alertou diversas vezes, mas nunca pensamos que seria algo desse nível. Essa campanha é um presente de Deus, estou longe, angustiada. Para nós gaúcho simboliza o pala que nos usamos, simboliza o aquecimento.